As novas tarifas incidem, sobretudo, sobre a indústria de transformação, responsável por US$ 12,3 bilhões em exportações impactadas em 2024, o que representa 69,9% do total sujeito à alíquota máxima.

Um levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI) revela que 77,8% das exportações brasileiras para os Estados Unidos estão hoje sujeitas às tarifas impostas pelo governo de Donald Trump. O percentual considera as três frentes tarifárias adotadas desde o início de 2025.
A análise incluiu a tarifa geral de 10% e uma alíquota adicional de 40 pontos percentuais, resultando em sobretaxas de até 50% para setores como siderurgia, veículos e autopeças. Segundo a CNI, mais da metade da pauta exportadora nacional para o mercado americano enfrentará essa tarifa máxima, sendo que 45,8% do total está diretamente submetido a sobretaxas exclusivas contra o Brasil.
O impacto recai principalmente sobre a indústria de transformação, que em 2024 respondeu por US$ 12,3 bilhões em exportações afetadas — o equivalente a 69,9% do total tributado na alíquota máxima. Entre os setores mais prejudicados estão vestuário, máquinas e equipamentos, têxteis, alimentos, químicos, couro e calçados. Produtos como aço, alumínio e cobre, que representam 9,3% da pauta exportadora, também enfrentam tarifa de 50%.
Por outro lado, 22,2% das exportações brasileiras permanecem isentas de tarifas adicionais. A maior parte dessas vendas vem da indústria extrativa, com destaque para o petróleo leve e pesado. Dentro da indústria de transformação, combustíveis automotivos e óleos combustíveis pesados sem biodiesel concentram parcela relevante dos itens livres das novas sobretaxas.
A tarifa adicional de 40%, aplicada em julho, prevê isenção condicional para produtos destinados à aviação civil, o que pode favorecer o setor de aeronaves não militares e equipamentos de transporte. Caso confirmada, essa exceção beneficiará 577 produtos, que ficariam sujeitos apenas à tarifa de 10%, aliviando parte da pressão sobre a indústria aeronáutica brasileira.
Além das medidas já implementadas, o governo americano mantém investigações abertas sob a Seção 232 (lei de expansão comercial) — iniciadas em 1º de março de 2025 — para avaliar novos setores, incluindo aeronaves e motores, caminhões, madeira, minerais críticos, semicondutores e produtos farmacêuticos.
Para enfrentar o cenário, a CNI apresentou ao governo brasileiro oito medidas emergenciais, entre elas:
- criação de linha de crédito especial do BNDES com juros reduzidos;
- extensão de prazos para contratos de câmbio e financiamentos de exportação;
- diferimento de tributos federais;
- pagamento imediato de ressarcimentos de créditos tributários;
- ampliação do Reintegra;
- reativação do Programa Seguro-Emprego.
“O levantamento mostra a dimensão do problema e a urgência de articulação entre governo e setor produtivo. Precisamos preservar nossa capacidade exportadora e responder rapidamente a essa escalada protecionista”, afirmou Ricardo Alban, presidente da CNI, em nota.