Poucas parcerias entre os grandes players globais da construção civil são tão duradouras quanto a da Caterpillar – maior fabricante mundial de equipamentos originais (OEM) – e da Trimble, referência em tecnologia para construção inteligente.
As empresas mantêm uma joint venture 50-50 desde 2002, a CTCT, que se tornou um marco de colaboração no setor. “O divórcio não é uma opção”, afirma Chris Shephard, vice-presidente do Construction Solutions Group da Trimble, ao descrever o nível de integração entre as duas companhias.

Imagem: Trimble
Um novo modelo de colaboração
Em outubro de 2024, o acordo foi revisado e passou a adotar um modelo mais flexível. No lugar do desenvolvimento conjunto de produtos completos, a estratégia agora é criar um “motor” central comum, a partir do qual cada empresa desenvolverá soluções personalizadas para seus clientes e mercados.
“Às vezes, temos objetivos conflitantes que nem sempre se alinham”, explica Shephard. “Com esse novo conceito, cada empresa adquire o motor e, a partir dele, cria seu próprio produto final.”
Impactos no mercado
A mudança garante mais inovação e adaptabilidade, permitindo que Caterpillar e Trimble avancem em soluções de controle de nivelamento tanto para sistemas integrados de fábrica quanto para o mercado de pós-venda.
Outro ponto relevante é a alteração na estratégia de distribuição. Antes, a Trimble dependia fortemente da SITECH, rede de vendas vinculada à Caterpillar. No entanto, dificuldades em alcançar clientes de outros OEMs motivaram a Trimble a construir relacionamentos diretos com novos revendedores em regiões onde o alcance era limitado.
Um acordo atualizado para novos tempos
Para Shephard, que atua na Trimble há 27 anos e participou da formação da CTCT, a atualização é necessária para acompanhar a evolução do mercado.
“À medida que o mundo muda, o acordo precisa acompanhar. Caso contrário, ficamos presos a disposições desatualizadas. O novo modelo reflete a realidade atual e o que vemos para o futuro”, conclui.
Adoção de controle de notas

Imagem: Trimble
Apesar de algumas previsões de que o controle de nivelamento seria instalado de fábrica como padrão, o setor seguiu um caminho diferente. Segundo Chris Shephard, da Trimble, a realidade ainda é de um mercado predominantemente de reposição.
“Talvez 60 a 70% de todo o controle de nivelamento seja adquirido junto com uma máquina nova, mas a instalação acontece na concessionária – não na fábrica”, explica.
A razão está na complexidade dos fluxos de produção e na necessidade de personalização. Clientes podem optar, por exemplo, entre diferentes pacotes de tecnologia – como sistemas Earthworks – ou mesmo melhorias de conforto, como um assento premium. Esse tipo de configuração costuma ser feito na concessionária, pouco antes da entrega da máquina.
Shephard destaca ainda a importância da presença no momento da compra:
“Quem quiser vender controle de nível precisa estar na concessionária quando o cliente fecha a compra. Se você for comprar uma máquina Hitachi e a concessionária não representar a Trimble, o cliente receberá outra solução. O acordo altera os termos exatamente nesse ponto.”
O executivo prevê que, no futuro, mais máquinas chegarão ao mercado com soluções integradas. Porém, isso não significa montagem de fábrica: a tendência é que as concessionárias continuem como ponto-chave, integrando a tecnologia à máquina de forma alinhada ao financiamento e às escolhas do cliente.
Adoção digital na construção
A falta de adoção tecnológica na construção civil é frequentemente apontada como um “castigo” para o setor, mas essa narrativa ignora os obstáculos reais que diferenciam a construção de outras indústrias.
Chris Shephard, vice-presidente do Construction Solutions Group da Trimble, explica que o ambiente de obras é muito mais desafiador do que fábricas controladas, como as que produzem chips de silício. “Não é limpo, não é simples. Dependendo do tipo de construção, há inúmeros atores envolvidos e tudo precisa se unir em um canteiro de obras – seja uma estrada ou um arranha-céu. A complexidade é muito maior do que na indústria”, afirma.

Imagem: Mitchell Keller
Apesar das dificuldades, Shephard ressalta que já há avanços significativos com a digitalização do setor. Ele destaca que tecnologias como o controle de nivelamento podem gerar aumentos de até 40% na produtividade, independentemente do tipo de máquina, algo que setores tradicionais gostariam de ter.
“À medida que você conecta ativos, pessoas e processos, as informações permitem que os profissionais tomem decisões melhores, aumentem a produtividade e façam mais com menos”, explica. Para Shephard, esse é um potencial natural da tecnologia, que permite superar barreiras e criar focos de excelência em um setor historicamente desafiador.