Enquanto bilhões de reais aguardam investimento em infraestrutura nacional, a experiência de empresas pioneiras mostra que a verdadeira revolução do setor passa pela precisão milimétrica no controle de processos.
Essa é a grande contradição que define o futuro da construção no Brasil: mesmo com grandes aportes programados, o país ainda perde até 40% dos materiais por imprecisão na execução, segundo a Pesquisa Anual da Indústria da Construção (PAIC), do IBGE.
Com o setor enfrentando desafios estruturais crescentes, essa ineficiência deixou de ser aceitável.
O cenário da ineficiência e seus impactos
Os números que revelam a urgência da transformação são contundentes.
Segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV), 94% das construtoras brasileiras relatam escassez de mão de obra qualificada, e 60% dos profissionais nunca participaram de cursos formais de capacitação.
O desperdício de materiais é outro ponto crítico.
Um levantamento da Abrelpe já apontava, em 2021, que o Brasil gerou 48 milhões de toneladas de resíduos da construção civil, dos quais apenas uma pequena fração é reciclada.
Essa combinação de ineficiência operacional e déficit de qualificação exige uma mudança profunda de mentalidade sobre como o país constrói sua infraestrutura.
Do monitoramento à automação: o salto conceitual que define a eficiência
O principal obstáculo à otimização dos investimentos não é tecnológico, mas conceitual.
Muitos empresários ainda confundem telemetria passiva — que apenas monitora dados como consumo de combustível — com controle ativo de obras, que utiliza modelos digitais 3D para comandar máquinas em tempo real.
Essa diferença define o verdadeiro retorno sobre o investimento em digitalização.
Com o uso do controle a partir da cota do projeto (design-down), o modelo digital é materializado diretamente no terreno, com precisão que pode chegar a poucos milímetros na pavimentação.
Essa exatidão reduz o desperdício de concreto em até 15%, aumentando a produtividade, a qualidade de execução e a segurança do resultado final.
Casos reais de transformação: quando tecnologia vira resultado
A Construtora Tripoloni, pioneira desde 2013, documenta de forma concreta os ganhos obtidos com a evolução tecnológica.
A empresa começou na terraplenagem com motoniveladora e trator de esteiras, expandindo gradualmente para pavimentação e fresagem, validando cinco benefícios mensuráveis:
- Redução de erros humanos;
- Maior precisão na execução;
- Gestão digital completa;
- Eliminação de retrabalhos;
- Eficiência operacional superior.
Esses avanços foram comprovados em mais de 500 km de rodovias federais, incluindo 157 km da BR-222/MA e 142,04 km da PRC-280/PR, dispensando métodos convencionais e estabelecendo um novo padrão técnico para a região.
Além disso, a construtora executou obras de pavimentação em aeroportos na Bolívia, consolidando a aplicação internacional da tecnologia.
As barreiras que ainda limitam a transformação
Apesar dos casos de sucesso, a adoção de tecnologias avançadas ainda é restrita.
Mais de 60% das empresas de construção civil relatam dificuldade em contratar profissionais qualificados, segundo a FGV, reflexo direto da falta de formação técnica estruturada no país.
Mesmo com o avanço da digitalização no setor, o segmento de infraestrutura ainda mostra defasagem significativa em relação às edificações.
O paradoxo é claro: o setor reconhece a necessidade da transformação, mas esbarra em barreiras culturais e na ausência de capacitação adequada.
Democratização tecnológica e o novo ritmo da construção
A boa notícia é que o processo de democratização da tecnologia já começou.
Com o crescimento dos investimentos em softwares de gerenciamento e automação, o setor dá sinais de uma mudança estrutural definitiva.
Casos como o da D’Itália Empreendimentos, que aplica controle 3D em obras de infraestrutura de condomínios residenciais, comprovam que alta produtividade, precisão milimétrica e gerenciamento remoto não são mais exclusividade de grandes projetos.
O futuro: eficiência como legado
Uma década após as primeiras implementações de controle digital de obras no Brasil, o ritmo de adoção nos próximos anos será decisivo.
A velocidade dessa transformação determinará se os novos investimentos públicos e privados serão aplicados com máxima eficiência — ou se o país continuará perpetuando décadas de desperdício e ineficiência.
A tecnologia já provou que funciona.
O que falta agora é transformar a precisão em cultura — e fazer dela o padrão construtivo do futuro brasileiro.
