Nos últimos anos, a madeira, um dos materiais mais antigos utilizados pela humanidade, tem passado por um processo de ressignificação no setor da construção civil.

A madeira acompanha a trajetória da engenharia desde os primeiros abrigos rudimentares até projetos arquitetônicos de vanguarda que hoje redefinem o skyline de diversas cidades globais.
Nos últimos anos, esse material milenar passou por um processo de ressignificação, consolidando-se não apenas pelo seu valor estético, mas também como insumo estratégico e sustentável para a construção civil contemporânea.
De acordo com a FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação), a madeira representa mais de 10% de todos os insumos utilizados mundialmente na construção. No Brasil, o Instituto Brasileiro de Árvores (Ibá) aponta que o setor florestal responde por 1,2% do PIB nacional, movimentando cerca de R$ 97 bilhões ao ano — reflexo direto da expansão de soluções construtivas baseadas em madeira.
Avanços tecnológicos em durabilidade e desempenho
Historicamente, a madeira enfrentou resistências relacionadas à durabilidade e ao ataque de agentes biológicos. No entanto, a evolução de tratamentos químicos de preservação, somada ao desenvolvimento de sistemas construtivos industrializados, vem transformando esse cenário.
Atualmente, a madeira tratada apresenta:
- Alta durabilidade em ambientes externos e internos;
- Resistência a fungos, insetos e intempéries;
- Estabilidade dimensional, com menor risco de empenamento;
- Desempenho estrutural comprovado em aplicações de médio e grande porte.
Esses avanços ampliam a confiabilidade técnica do material e permitem sua aplicação em projetos residenciais, comerciais e institucionais, atendendo aos requisitos das normas brasileiras de desempenho (ABNT NBR 15575 e correlatas).
Madeira e redução da pegada de carbono
Sob a ótica ambiental, a madeira apresenta vantagens únicas em relação ao concreto e ao aço. Enquanto esses materiais demandam processos de alta intensidade energética, a madeira atua como reservatório de carbono.
Segundo estudo da International Energy Agency (IEA), o uso de estruturas de madeira pode reduzir em até 40% as emissões de CO₂ em comparação a métodos construtivos convencionais. Em sistemas como o wood frame e o CLT (Cross Laminated Timber), esse impacto positivo se soma à rapidez de execução e à redução significativa do desperdício de materiais.
Tendências globais e o cenário brasileiro
Países como Canadá, EUA, Japão e membros da União Europeia lideram o uso de madeira engenheirada em edifícios de múltiplos pavimentos. Um exemplo emblemático é a Áustria, onde torres residenciais de CLT redefinem padrões de altura e segurança para estruturas em madeira.
No Brasil, observa-se um movimento de expansão:
- Universidades e centros de pesquisa adaptam tecnologias internacionais à realidade local;
- Normas técnicas avançam para regulamentar o uso da madeira em construções permanentes de médio e alto padrão;
- Empresas especializadas investem em inovação, associando preservação química e design arquitetônico contemporâneo.
Com aproximadamente 10 milhões de hectares de florestas plantadas, o Brasil possui condições únicas para liderar essa transição, alinhando-se às diretrizes globais de ESG e economia de baixo carbono.
Conclusão
A evolução da madeira na construção civil não se limita a um retorno ao passado: trata-se de um reposicionamento tecnológico. A combinação de tratamentos químicos de alta performance, sistemas construtivos industrializados e manejo florestal sustentável cria um ecossistema robusto para ampliar o uso da madeira em larga escala.
O desafio, agora, é superar barreiras culturais e reforçar junto ao mercado que a madeira, quando corretamente especificada e tratada, representa não apenas uma solução estética, mas também uma alternativa estrutural competitiva, durável e sustentável, à altura das demandas arquitetônicas e urbanísticas do século XXI.