O país definiu uma meta de incorporar 3% de SAF em seus voos nos próximos cinco anos, com a ambição de alcançar 50% até 2030.

As relações comerciais entre Brasil e China avançam para um novo patamar com foco na transição energética. O destaque agora é a utilização do etanol brasileiro como base para a produção de combustíveis sustentáveis de aviação (SAF) em território chinês.
O tema foi tratado em encontros recentes entre representantes do governo brasileiro, da China Petroleum and Chemical Industry Federation (CPCIF) e da Chimbusco, subsidiária da PetroChina. Segundo informações divulgadas pela Folha, essa cooperação tem potencial econômico expressivo e pode colocar o etanol no centro da estratégia de descarbonização da aviação chinesa.
A China estabeleceu como meta adicionar 3% de SAF em seus voos até 2030, com o objetivo de chegar a 50% no longo prazo. Isso significaria a produção de cerca de 46 milhões de toneladas, considerando o consumo anual de 86 milhões de toneladas de combustível.
Diante da limitação de terras agrícolas disponíveis para culturas não alimentares e da baixa produção doméstica de etanol, o país asiático vê no Brasil um parceiro estratégico. Entre diferentes alternativas de insumos para o SAF — como óleos industriais reciclados, hidrocarbonetos e combustíveis sintéticos — a cana-de-açúcar brasileira aparece como a opção mais competitiva e escalável.
Em diálogo com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o líder chinês Xi Jinping ressaltou a intenção de transformar a parceria em um modelo de cooperação entre países do Sul Global. “A China está pronta para trabalhar com o Brasil na construção de um futuro comum e na defesa contra práticas unilaterais e protecionistas”, destacou.
De acordo com a CPCIF, um protocolo técnico que padroniza o uso do SAF já está em fase final de elaboração, de forma a adequar o etanol brasileiro às exigências chinesas. O Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) acompanha o processo e, em junho, realizou missão oficial à China para tratar do tema.
O estreitamento das relações bilaterais deve ser consolidado na COP30, que acontece em novembro, em Belém (PA), onde está previsto um memorando de entendimento (MoU) entre Brasil e o China Council for the Promotion of International Trade (CCPIT), voltado ao fomento de práticas comerciais sustentáveis relacionadas ao combustível de aviação.
As conversas também envolvem a criação de linhas de financiamento verde, por meio de fundos bilaterais e do banco dos BRICS, além do fundo China-Celac, voltado para projetos de recuperação de áreas degradadas e aumento da oferta de insumos para biocombustíveis no Brasil.
Outro ponto em discussão é o estabelecimento de um protocolo de certificação e rastreabilidade dos produtos agropecuários brasileiros, com reconhecimento de metodologias da Embrapa como comprovação oficial de sustentabilidade perante a China.
Segundo Xi Jinping, as relações bilaterais vivem “o melhor momento da história” e o alinhamento técnico e financeiro em torno do SAF pode garantir autonomia estratégica a ambos os países diante de pressões externas, como as investigações dos Estados Unidos sobre o etanol brasileiro.