O segundo relatório anual State of Decarbonization da PwC (PricewaterhouseCoopers) alerta que os contratantes enfrentam uma pressão crescente de clientes, investidores e seguradoras para comprovar o desempenho de carbono.

Um relatório internacional, que compila dados e análises de mais de 500 empresas globais, destaca os desafios e as oportunidades relacionadas às emissões de carbono na construção civil. O estudo aponta que o tema será cada vez mais decisivo na competitividade do setor.
Segundo Mike Sobolewski, sócio de garantia da PwC e especialista em engenharia e construção nos EUA, as empresas que não se adaptarem às exigências ambientais correm o risco de serem excluídas de futuros contratos.
“Empresas despreparadas correm o risco real de perder oportunidades em licitações e projetos estratégicos”, afirmou Sobolewski.
1) Tornar as emissões do Escopo 3 visíveis e influenciar os fornecedores

As emissões de Escopo 3 – aquelas associadas a fornecedores, materiais e subcontratados – representam mais de 70% da pegada de carbono de um projeto típico de construção, segundo o mais recente relatório da PwC. O estudo detalha que 65% das emissões estão diretamente ligadas a fornecedores e materiais, enquanto 12% são atribuídas a impactos a jusante, como o fim da vida útil das construções e a fase de uso.
“Incorporar emissões às compras não é uma utopia. É uma vantagem mensurável para quem lidera, protegendo a continuidade do fornecimento e garantindo competitividade em um mercado que exige responsabilização”, afirma Mike Sobolewski, sócio de garantia da PwC e especialista em engenharia e construção.
No mercado americano, 54% das empresas de construção e engenharia relatam estar no caminho certo para atingir as metas do Escopo 3, contra 41% no ano anterior. Porém, apenas 1% das empresas pesquisadas demonstram liderança efetiva no engajamento de fornecedores para redução de emissões.
A PwC alerta que, sem influenciar esses insumos, as construtoras têm pouco controle sobre a maior parte de sua pegada de carbono, o que dificulta reduções significativas.
Por outro lado, oportunidades de mercado podem surgir justamente desse cenário: “Com tão pouco engajamento atual, há espaço para uma grande mudança. A receita alinhada ao clima deve chegar a 42% do setor até 2030, e os fornecedores terão papel decisivo nessa transição”, destaca o relatório.
2) Garantir parcerias pré-fabricadas com antecedência

Os métodos de pré-fabricação modular e offsite tornaram-se essenciais para setores estratégicos como energia, energias renováveis e infraestrutura digital. No entanto, a capacidade global para atender a essa demanda permanece limitada, com a oferta insuficiente para acompanhar o ritmo de expansão dos projetos, alerta a PwC.
Segundo a consultoria, a falta de especialistas em pré-fabricação modular contratados com antecedência pode resultar em atrasos significativos ou até mesmo em alterações em ordens de serviço, comprometendo cronogramas e custos.
Embora a pré-fabricação offsite proporcione economia de tempo, mão de obra e custos, retrabalhos ou atrasos em materiais pré-fabricados podem ser altamente onerosos. Além disso, o ecossistema de especialistas no segmento está em constante transformação:
- Empresas como a Katerra (EUA) e a Ilke Homes (Reino Unido) encerraram operações após tentativas frustradas de expansão em um mercado pouco receptivo.
- Em regiões de rápido crescimento, como o Oriente Médio, megaprojetos estão superando a oferta de pré-fabricados.
- América do Norte e África enfrentam redes de fabricação limitadas, lacunas de mão de obra e restrições logísticas.
A PwC destaca ainda que apenas 25% das construtoras destinam investimentos de capital a projetos relacionados à transição climática, o que contribui para a expansão lenta da capacidade e da inovação em pré-fabricação.
Para Mike Sobolewski, sócio da PwC e especialista em construção:
“A modularidade agora é essencial para a execução de trabalhos complexos, congestionados ou com mão de obra limitada. Mas a capacidade não aparecerá da noite para o dia. Se os contratantes não investirem nela ou não a garantirem logo, ficarão para trás.”
3) Executar LCAs e EPDs desde o primeiro dia
Decisões de design tomadas nos primeiros 10% de um projeto determinam a maior parte das suas emissões de carbono, aponta a PwC. No entanto, muitas empresas ainda postergam a Análise do Ciclo de Vida (ACV) e as avaliações de materiais para fases avançadas, quando alterações significativas já não são viáveis.
“Projetos bem-sucedidos incorporam o pensamento do ciclo de vida ao modelo de entrega desde o primeiro dia”, destaca Mike Sobolewski, sócio da PwC e especialista em construção.
A PwC recomenda que o pensamento baseado em ciclo de vida seja integrado desde a concepção do projeto, com o uso de:
- Análise do Ciclo de Vida (ACV) para identificar impactos ambientais de cada etapa;
- Declarações Ambientais de Produtos (DAPs) para selecionar materiais com menor pegada de carbono;
- Engajamento comercial antecipado, por meio de projeto e construção progressivos ou modelos integrados de entrega.
Essa abordagem garante maior controle sobre emissões, reduz custos de ajustes tardios e reforça a resiliência do projeto em um mercado cada vez mais sensível às metas climáticas.
Na Europa, ferramentas como o Indicate Life estão se consolidando como referência na avaliação de impacto de carbono em projetos de construção. Desenvolvido pela Comissão Europeia, o sistema permite que projetistas, empreiteiros e reguladores modelem as emissões ao longo de todas as fases da vida útil de um edifício – desde os materiais e a construção até o uso e a demolição. O objetivo é orientar decisões de projeto e aquisição mais sustentáveis, alinhadas às metas de descarbonização do bloco econômico.
Nos Estados Unidos, embora o cenário regulatório para LCAs (Life Cycle Assessments) e EPDs (Environmental Product Declarations) ainda esteja atrasado em relação à União Europeia, a justificativa financeira para adoção dessas ferramentas cresce rapidamente. Diversas empresas públicas e privadas já desenvolvem produtos específicos para o setor, e grandes empreiteiras utilizam LCAs e EPDs para gerenciar escolhas de materiais, otimizar a cadeia de suprimentos e reduzir emissões ligadas ao transporte.
A não utilização dessas soluções pode gerar altos custos, uma vez que escolhas incorretas de materiais na fase de pré-construção são onerosas para corrigir durante a obra.
De acordo com o relatório da PwC, empresas que incorporam ferramentas de carbono desde a fase inicial de projeto apresentam melhor desempenho na redução das emissões de Escopo 1 e 2. Em 2025, 66% das empresas de construção afirmaram estar no caminho certo para cumprir suas metas, contra 57% no ano anterior.
Nos EUA, apesar de a política federal oferecer apenas incentivos gerais e metas amplas, a maior parte dos requisitos de descarbonização relacionados a materiais, emissões e relatórios é definida em nível estadual e municipal. Isso significa que não apenas grandes corporações, mas também pequenas e médias empresas estão sujeitas às expectativas de redução de carbono.
4) Ligue todo o local ou esqueça os equipamentos elétricos

Imagem: Allye
As frotas eletrificadas estão ganhando espaço no setor da construção civil, mas a maioria dos canteiros de obras ainda não está preparada para essa transição. Segundo a PwC, apenas 3% das reduções recentes de emissões no setor vieram do uso de eletricidade renovável, evidenciando o quão limitada ainda é a eletrificação no ambiente de obras.
Entre os principais desafios, a PwC destaca cobranças inconsistentes, opções de leasing pouco atrativas e logística fragmentada, fatores que dificultam a escalabilidade da eletrificação. Contratantes que tentam ser pioneiros no uso de máquinas elétricas frequentemente enfrentam obstáculos quando o acesso à eletricidade é restrito.
“A restrição não é a inovação, é a implementação”, afirma Mike Sobolewski, especialista da PwC.
Esse cenário, porém, pode se transformar em breve. Em alguns mercados, frotas de baixa emissão já são um requisito obrigatório em licitações, e o desenvolvimento de sistemas de armazenamento elétrico a bateria está se tornando mais acessível e economicamente viável.
De acordo com a PwC, contratantes que investirem agora em logística de eletrificação – considerando todo o local de obra, e não apenas a frota – poderão conquistar vantagem competitiva à medida que as exigências de emissões se tornarem mais rigorosas.
“Sem uma logística instalada no local e uma infraestrutura de energia confiável, a eletrificação continuará sendo um caso de negócio marginal e pode até ser excluída de propostas futuras”, alerta Sobolewski.
5) Siga a capital: ela está se movendo mais rápido que a política
Desenvolvedores, investidores e seguradoras estão priorizando empresas capazes de quantificar emissões de carbono, verificar dados de fornecedores e evitar atrasos operacionais. Esse tripé tem se consolidado como o principal motor da descarbonização, especialmente nos Estados Unidos, onde a desregulamentação ambiental permanece como uma característica marcante do governo Trump.
“Os fluxos de capital são cada vez mais impulsionados pelo investimento privado”, destaca Mike Sobolewski, especialista da PwC. “As políticas ainda importam, mas a viabilidade agora está atrelada à confiabilidade da entrega, à transparência das emissões e à velocidade de lançamento no mercado.”
A PwC destaca em seu último relatório que construções modulares, monitoramento de emissões e eletrificação de canteiros são agora considerados mecanismos estratégicos de redução de risco. Ignorar essas práticas pode dificultar que um projeto obtenha financiamento ou seguro, dadas as expectativas atuais do mercado.
O estudo também revela que edifícios com certificação LEED garantem um prêmio de aluguel médio de 4%, reforçando o valor econômico de projetos sustentáveis. Além disso, o mercado global de materiais de construção ecológicos mantém um ritmo acelerado, com um crescimento anual composto de 12%, o que confirma a lógica comercial por trás das estratégias de descarbonização.
O objetivo final da descarbonização na construção
O cenário das licitações está passando por uma transformação significativa, com a clareza sobre emissões de Escopo 3, o planejamento pré-fabricado e o uso de ferramentas de análise do ciclo de vida (ACV) se tornando padrão de mercado — e um verdadeiro pré-requisito para participação, sobretudo em projetos públicos de grande porte e em habitações multifamiliares.
A visão de longo prazo para o ambiente construído é clara: a redução de carbono veio para ficar. Quando implementada estrategicamente, além de atender às novas exigências, pode abrir oportunidades de crescimento de receita para empresas que saírem na frente.
Segundo Sobolewski, especialista da PwC, os contratantes não devem — e certamente não podem — esperar pela regulamentação para iniciar a descarbonização de suas operações. “O verdadeiro risco não é a falta de interesse”, alerta. “É não estar preparado para entregar.”