A crescente entrada de produtos importados com preços artificialmente reduzidos — resultado de subsídios concedidos por países com excedente de produção — representa uma séria ameaça à sustentabilidade operacional de centenas de empresas do setor siderúrgico nacional.

Fortalecer a indústria nacional não é apenas uma decisão econômica — é uma escolha estratégica sobre o futuro do país.
A negligência em relação ao investimento na produção local implica perdas que vão muito além da competitividade: empregos qualificados, inovação tecnológica, arrecadação tributária e a capacidade de sustentar uma economia resiliente e soberana são diretamente comprometidos.
Hoje, a indústria brasileira processadora do aço vive um momento decisivo.
Diante de um cenário global marcado pelo excesso de capacidade produtiva e por práticas desleais de comércio, diversas nações — como Estados Unidos, México, Colômbia, Índia e os países da União Europeia — têm adotado medidas firmes para proteger suas cadeias produtivas e garantir condições justas de concorrência.
No Brasil, entretanto, a ausência de uma resposta proporcional expõe o setor a uma concorrência desequilibrada, com efeitos diretos sobre o desenvolvimento econômico e sustentável.
O segmento do aço está sob pressão — e há razões claras para que ele receba atenção imediata.
A entrada crescente de produtos importados com preços artificialmente baixos, viabilizados por subsídios em países com excedente de produção, ameaça a sobrevivência de centenas de empresas responsáveis por transformar aço em soluções essenciais para os mais diversos setores da economia.
Trata-se de um risco concreto à indústria nacional — especialmente para as pequenas e médias empresas — e, consequentemente, à geração de empregos de qualidade e alto valor agregado.
Os dados são claros: entre janeiro e abril deste ano, o volume de produtos importados do segundo elo da cadeia do aço — o de processamento — aumentou mais de 30% em relação ao mesmo período de 2023, segundo levantamento da Abimetal-Sicetel com base em dados oficiais do Comex Stat.
Esse crescimento expressivo ocorre num momento em que o Brasil dispõe de capacidade ociosa, mão de obra qualificada e infraestrutura produtiva apta a atender grande parte dessa demanda internamente.
Grande parte dessas importações vem da China, onde os preços praticados — muitas vezes abaixo do valor de mercado — distorcem a concorrência e colocam em risco a sustentabilidade da indústria nacional.
O que foi feito até agora?
Como resposta inicial, o governo brasileiro elevou para 25% a alíquota de importação de seis produtos fabricados por empresas representadas pela Abimetal-Sicetel: arames galvanizados, arames de alto carbono, arames de outras ligas, materiais para andaimes, telas soldadas e pregos.
Apesar de representar um avanço importante, a medida ainda é insuficiente diante da urgência de garantir previsibilidade e equilíbrio competitivo. Além disso, a indefinição quanto à renovação da alíquota compromete sua efetividade como instrumento de defesa da indústria nacional. Confiamos que a Câmara de Comércio Exterior (Camex) atuará pela renovação desta medida.
A importância econômica e social do setor
Segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), o setor reúne aproximadamente 30 mil empregos diretos — postos que movimentam economias locais, exigem qualificação técnica e contribuem significativamente para a arrecadação fiscal.
Ainda de acordo com a Confederação Nacional da Indústria (CNI), os empregos industriais pagam, em média, 10% mais do que os de outros setores e concentram 69% dos investimentos em pesquisa e desenvolvimento no país.
Portanto, defender os trabalhadores industriais é também proteger a capacidade produtiva e inovadora do Brasil.
Competitividade com isonomia
A indústria brasileira do aço não teme a concorrência internacional. O que se busca é um ambiente de isonomia competitiva, com regras claras, estáveis e justas.
Renovar o atual sistema de fortalecimento comercial e avançar em políticas públicas mais eficazes são medidas urgentes para restabelecer a competitividade do setor. O parque industrial está pronto: temos capacidade instalada, excelência técnica e compromisso com o desenvolvimento nacional. O que falta, muitas vezes, são as condições adequadas para competir em pé de igualdade.
Reflexão necessária
Quando o país conta com condições técnicas, produtivas e humanas para atender sua própria demanda, faz sentido priorizar fornecedores estrangeiros em detrimento de empresas brasileiras que geram empregos, pagam impostos e investem em inovação?
A indústria do aço integra um elo vital da economia nacional. De acordo com a CNI, cada R$ 1,00 gerado pela indústria de transformação movimenta R$ 2,43 na economia — o maior efeito multiplicador entre todos os setores.
Valorizar essa capacidade produtiva é essencial para a construção de um país mais próspero, inovador e socialmente justo.
É hora de rever políticas, repensar prioridades e apoiar quem investe, emprega e acredita no Brasil.