Um estudo da Grant Thornton Brasil revela que as incorporadoras imobiliárias registraram um aumento de 23,7% na receita líquida em 2023.

O estudo “Incorporadoras Q4 2024”, desenvolvido pela consultoria Grant Thornton, destaca o desempenho robusto do setor imobiliário brasileiro em 2024, marcado por um crescimento expressivo nas vendas, lançamentos e nos principais indicadores financeiros.
De acordo com o relatório, o setor registrou crescimento de 23,7% na receita combinada, que alcançou R$ 46,1 bilhões no ano. O lucro líquido total das incorporadoras atingiu R$ 5,3 bilhões, um avanço de 88% em relação a 2023. Somente no quarto trimestre, o lucro disparou 104%, totalizando R$ 1,7 bilhão.
Esses números refletem uma recuperação sólida pós-pandemia, amparada por políticas públicas e pela retomada da confiança no mercado. Os dados do relatório também corroboram o levantamento da Brain/CBIC, que identificou aumento de 18,6% nos lançamentos e de 20,9% nas vendas entre 2023 e 2024.
Indicadores financeiros do setor em destaque:
- Margem líquida: passou de 27,4% (março/23) para 31,3% (dezembro/24), sinalizando melhor gestão de custos e despesas;
- Receita líquida combinada: R$ 46,1 bilhões em 2024 (+23,7%);
- Custos operacionais: aumento de 19,9%, refletindo o impacto da inflação e da pressão nos insumos;
- Despesas administrativas: alta de 10,1%, superando a inflação oficial de 4,83%;
- Despesas comerciais: subiram 13,5%, indicando maior esforço das incorporadoras para manter a performance de vendas.
Desafios para 2025: juros altos e pressão de custos
Apesar dos resultados expressivos, o estudo alerta para um cenário desafiador em 2025. A taxa Selic permanece elevada, atualmente em 14,75% ao ano, o que encarece o financiamento imobiliário e reduz o poder de compra dos consumidores.
Além disso, o Índice Nacional da Construção Civil (INCC-DI) acumula alta de 7,54% em 12 meses, o que pressiona os custos das obras, especialmente em empreendimentos de média e alta renda, cujos repasses só ocorrem na entrega do imóvel.
“Com a Selic ainda elevada, o financiamento continua caro, impactando diretamente a capacidade de compra dos consumidores”, ressalta o relatório.
O estudo também destaca os desafios enfrentados pelas empresas que atuam no programa Minha Casa, Minha Vida, devido à restrição de crédito e ao aumento nos custos de construção. Para o segmento de alto padrão, o risco está associado ao aumento dos distratos e aos custos fixos de IPTU e condomínio das unidades devolvidas.
Mercado popular em alta; segmentos médio e alto em alerta
Para Maria Regina Abdo, sócia de auditoria e líder de Real Estate da Grant Thornton, o mercado de baixa renda continua aquecido graças aos incentivos governamentais, mesmo diante do cenário macroeconômico instável.
“A demanda por imóveis das classes C e D se mantém firme. Os programas públicos têm papel fundamental nesse desempenho”, afirma.
Já o segmento de média e alta renda deve apresentar desaceleração, especialmente em função da combinação entre juros altos e inflação da construção, que pode comprometer o ritmo das vendas e elevar os estoques.
No entanto, segundo Thiago Bragatto, sócio da Grant Thornton e coordenador do estudo, o setor de luxo e superluxo tem mostrado resiliência.
“Embora enfrente pressões, o mercado de alta renda permanece sólido. A Lei do Distrato tem se mostrado uma proteção importante, ajudando a mitigar riscos em um cenário de instabilidade”, conclui.