O que está impulsionando a consolidação das construtoras residenciais dos EUA?

Setor de construção residencial nos EUA segue aquecido para vendas e aquisições

Os últimos anos têm se mostrado especialmente favoráveis para quem deseja vender uma empresa no setor de construção residencial dos Estados Unidos. Apesar da leve queda no número de transações desde o pico de 54 negócios em 2021 — impulsionado pela reabertura econômica pós-pandemia — o ano de 2024 registrou 34 transações, número ligeiramente acima da média da última década.

Grande parte dessas operações foi liderada por adquirentes estratégicos, ou seja, empresas já atuantes no setor que buscam expandir sua presença por meio da aquisição de concorrentes. Esses compradores foram responsáveis por 22 dos 34 negócios realizados. Os demais 12 envolveram investidores financeiros, como fundos de private equity.

Além disso, o valor que os compradores estão dispostos a pagar pelas empresas do setor aumentou de forma significativa, refletindo a atratividade do mercado e a competição por ativos estratégicos.

Os valores pagos por empresas do setor de construção residencial nos Estados Unidos aumentaram significativamente nos últimos anos.

Segundo dados da consultoria financeira corporativa Wipfli, os múltiplos de EBITDA (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) quase triplicaram, saltando de uma média de 4,2x entre 2006 e 2011 para 9,5x no período de 2021 a 2024.

Esse crescimento reflete o movimento de consolidação entre grandes players do setor, que buscam maior eficiência e lucratividade para enfrentar a escassez de moradias.

Empresas com extensos portfólios de terrenos estão unindo forças para melhor atender à crescente demanda — em especial diante de um ambiente econômico desafiador, marcado pelo rápido aumento das taxas de juros e pela dificuldade dos compradores em progredir na chamada “escada da habitação”, segundo Colin Johnson, diretor administrativo da Wipfli.

Futuro incerto, mas demanda permanece forte

Apesar do cenário positivo recente, o futuro permanece nebuloso. A trajetória das taxas de juros, os custos crescentes de materiais e os riscos de uma recessão tornam difícil prever a sustentabilidade desses múltiplos elevados.

“Estamos diante de um conjunto de circunstâncias muito incomuns, tanto do ponto de vista das políticas quanto da situação econômica. Acompanhar esses fatores de perto é essencial neste momento”, afirma Johnson.

Ainda assim, a oferta limitada de moradias, combinada com uma demanda persistente — especialmente no segmento de alto padrão — sustenta o interesse por aquisições no setor. Embora a incerteza econômica torne mais difícil estimar o desempenho futuro das empresas-alvo, os compradores continuam atentos ao valor embutido nas carteiras de pedidos e nos terrenos já adquiridos.

“Eu acredito que o setor de construção e serviços residenciais dos EUA continuará sendo uma área estratégica, que vai evoluir independentemente das oscilações políticas e econômicas”, conclui Johnson.

Brad Werner, sócio da Wipfli e líder nacional em construção e mercado imobiliário, acredita que as avaliações no setor de construção residencial dos EUA ainda podem subir — especialmente se o capital privado intensificar sua atuação em fusões e aquisições, focando empresas que operam em nichos específicos do setor.

Segundo ele, os investidores de private equity já demonstram forte apetite por subcontratados especializados em serviços como cobertura, HVAC (aquecimento, ventilação e ar-condicionado), encanamento, elétrica, concreto e paisagismo — áreas que vêm enfrentando escassez de mão de obra qualificada.

“Empresas de private equity estão construindo plataformas robustas dentro de segmentos fragmentados como HVAC e empreiteiras mecânicas e elétricas. A pergunta agora é: será que eles começarão a enxergar construtoras regionais e locais como uma extensão estratégica de suas plataformas de investimento? Especialmente no setor de casas de alto padrão, onde a sensibilidade a variáveis macroeconômicas como taxas de juros tende a ser menor? Estou curioso para ver para onde essa tendência nos levará nos próximos anos”, afirma Werner.

Mercado polarizado: luxo versus volume

Enquanto o interesse do capital privado e a consolidação entre grandes construtoras impulsionam os múltiplos de avaliação, nem todos os players se beneficiam igualmente desse cenário. As empresas menores, especialmente aquelas fora do segmento de luxo, podem enfrentar pressão descendente sobre suas avaliações.

Colin Johnson, diretor administrativo da Wipfli, ressalta que essa concentração de mercado traz desafios significativos. “Há muitos fatores por trás da valorização dos múltiplos. A consolidação entre os grandes players é certamente um deles, mas à medida que o mercado se torna mais saturado e dominado por poucos concorrentes de grande porte, os múltiplos podem começar a cair — especialmente para construtoras menores que não operam em nichos especializados”, explica.

Segundo ele, esses grandes grupos conseguem operar de maneira mais eficiente, com maior escala e menores custos, o que dificulta a competitividade das empresas menores em segmentos mais sensíveis a preço.

Conselhos para construtores de casas menores

Johnson e Werner têm alguns conselhos para construtoras menores que desejam vender seus negócios para um comprador estratégico ou para uma empresa de private equity.

Para empresas do setor de construção residencial interessadas em atrair compradores ou investidores, este pode ser um momento oportuno — mas exige preparação cuidadosa. Colin Johnson, diretor administrativo da Wipfli, aconselha os empresários a se informarem amplamente antes de tomar decisões estratégicas.

“É um momento muito interessante para agir. Eu faria todo o possível para entender profundamente o mercado — conversaria com colegas, buscaria insights com profissionais de empresas maiores e não hesitaria em fazer perguntas”, recomenda.

Segundo ele, empresas que desejam se tornar mais atraentes para potenciais adquirentes devem priorizar eficiência operacional e fortalecer sua presença territorial.

Brad Werner, sócio da Wipfli e líder do setor de construção e mercado imobiliário, concorda e ressalta que é fundamental investir em sistemas internos. “Você pode ter uma boa equipe e um portfólio sólido de terrenos, mas se seus processos, tecnologia e parcerias com subcontratados não estiverem otimizados, isso pode ser um ponto fraco. Eu recomendaria consolidar e reforçar essas áreas”, afirma.

Werner também destaca a importância de compreender com clareza quem seriam os parceiros estratégicos ideais. “Os compradores estão buscando sinergias reais — onde um mais um seja igual a três. Independentemente da visão e da estratégia da sua empresa, certifique-se de que você tenha as ferramentas e a infraestrutura para escalar. Em última análise, é isso que os adquirentes procuram”, conclui.

Transações recentes para construtoras de casas nos EUA

Transações recentes em que grandes construtoras residenciais dos EUA compraram concorrentes menores e empresas de investimento compraram empresas do setor incluem:

•  Aquisição da Rausch Coleman Homes pela Lennar em 10 de fevereiro de 2025. A Rausch Coleman Homes oferece casas prontas para morar ou permite que os clientes escolham entre opções disponíveis de casas novas em sete estados diferentes. Valor da transação: US$ 900 milhões.
•  Aquisição da Davis Homes pela Defy Investments em 4 de fevereiro de 2025. A Davis Homes desenvolve coleções residenciais personalizáveis na região central de Indiana. A empresa é especializada no desenvolvimento e construção de loteamentos residenciais. Valor da transação: Não divulgado.
•  A Dream Finders Homes adquiriu a Liberty Communities em 23 de janeiro de 2025. A Dream Finders Homes projeta, constrói e vende casas em: Jacksonville e Orlando, na Flórida; Denver, Colorado; na região metropolitana de Washington, DC; e Austin, Texas. A Liberty Communities, por sua vez, oferece serviços de construção e construção residencial em McDonough, Geórgia. Valor da transação: Não divulgado.
•  A McKinley Homes adquiriu a Liberty Home Builders em 20 de dezembro de 2024. A McKinley Homes constrói novas casas em diversos estados, enquanto a Liberty Home Builders desenvolve imóveis residenciais em Houston e San Antonio, Texas. Valor da transação: Não divulgado.
•  A Empire Communities adquiriu a Covington Homes em 30 de setembro de 2024. A Empire oferece serviços imobiliários, de desenvolvimento de terrenos, de desenvolvimento imobiliário e de construção, enquanto a Covington Homes, sediada no Colorado, oferece serviços de construção residencial. Valor da transação: Não divulgado.