Inteligência artificial, automação e sustentabilidade lideram transformação da construção pesada no Brasil, afirma executivo

A Odebrecht, maior construtora do Brasil, vem intensificando seus investimentos em transformação digital com foco em automação, inteligência artificial e gestão sustentável de obras. Um dos marcos desse movimento é a implementação da Suíte OEC de Sustentabilidade, ferramenta que, segundo a empresa, tem gerado ganhos expressivos em segurança, eficiência operacional e redução de custos.
Como parte da estratégia, a companhia aposta em parcerias com startups, universidades e hubs de inovação para superar desafios técnicos e culturais, além de promover a capacitação contínua de suas equipes. A disseminação do uso de tecnologias como o Building Information Modeling (BIM) também é um dos pilares centrais da transformação em curso.
De acordo com a empresa, o objetivo é consolidar uma cultura de inovação que fortaleça a sustentabilidade e prepare a companhia para capitalizar o crescimento projetado para o setor da construção pesada em 2025.
A seguir, confira entrevista com Daniel Lepikson, gerente de inovação da Odebrecht, que detalha os avanços e próximos passos da companhia nesse processo de modernização.
Quais foram os maiores ganhos trazidos pela transição dos processos em papel para o sistema digital?
A migração dos processos em papel para plataformas digitais trouxe avanços significativos em eficiência e eficácia operacional nas frentes de obra. As atividades tornaram-se mais ágeis e seguras, com impactos diretos na produtividade e na qualidade da gestão. Além da redução no uso de papel e impressões, a digitalização permitiu economias relevantes em horas trabalhadas e proporcionou maior controle e automação de processos – gerando ganhos financeiros concretos para a companhia.
Quais têm sido os principais desafios nessa transformação?
O setor de construção – especialmente o segmento de infraestrutura pesada – ainda apresenta um estágio incipiente de digitalização, tanto no Brasil quanto em outras partes do mundo. Trata-se de uma indústria tradicionalmente menos exposta à tecnologia. Na Odebrecht, reconhecemos que a automação de processos é um pilar fundamental da nossa estratégia de inovação, com potencial direto para elevar a produtividade e a eficiência. Nesse contexto, firmamos uma parceria estratégica com o Inovabra, hub de inovação do Bradesco, onde participamos ativamente e já acumulamos cases de sucesso relevantes.
De que forma a companhia vem implementando a IA em seus projetos de construção pesada?
Iniciamos a aplicação da inteligência artificial na área de Administração Contratual, com o objetivo de automatizar a gestão e análise de contratos complexos — considerando precedências, interdependência entre cláusulas e compatibilização com anexos e documentos complementares. Inicialmente testamos uma solução desenvolvida por uma startup do Inovabra (Blueshift), mas decidimos desenvolver uma plataforma própria. Hoje, utilizamos a ferramenta “Smart OEC”, que tem demonstrado alta versatilidade. Paralelamente, conduzimos projetos-piloto em áreas como Propostas, Engenharia, Jurídico e Administração Contratual.
Há espaço para outras aplicações dessa tecnologia?
Certamente. Além da “Smart OEC”, aplicamos IA em assistentes virtuais — como o chatbot O.L.I.V.I.A. — e em sistemas inteligentes de busca de informações técnicas (como o projeto “Busca PD – Prêmio Destaque”). Também criamos uma metodologia baseada em IA para avaliar competências em BIM dos colaboradores previamente mapeados. Essa solução nos permitiu classificar os profissionais entre iniciantes, intermediários e especialistas com base em critérios lógicos e objetivos, o que tem sido essencial para monitorar a disseminação do conhecimento na organização e planejar ações de capacitação mais precisas.

Como a construtora está se preparando para adotar máquinas e equipamentos autônomos?
A busca por maior eficiência nas frentes de serviço é constante, tanto por questões de competitividade quanto pela necessidade de mitigar riscos operacionais. Sempre que houver equipamentos autônomos capazes de realizar determinada atividade com segurança, qualidade e viabilidade econômica, essa solução será considerada e avaliada para adoção. A empresa acompanha de perto as inovações do setor e mantém-se aberta à incorporação de tecnologias que agreguem valor ao processo construtivo.
Como a empresa lida com o desafio de capacitação da força de trabalho para operar novas tecnologias?
A qualificação técnica é uma prioridade estratégica. Os treinamentos ocorrem tanto nas obras quanto em iniciativas corporativas. Contamos com programas de formação estruturados pela área de Recursos Humanos, voltados ao desenvolvimento de lideranças e à sustentabilidade do negócio. Cursos específicos são conduzidos pelos próprios contratos ou por áreas especializadas — como TI, Segurança do Trabalho e Equipamentos. No eixo da Inovação, temos, por exemplo, um programa dedicado de capacitação em BIM, desenvolvido com apoio de consultores e empresas parceiras.
Quais são as principais barreiras para a adoção mais ampla de tecnologias como BIM, IoT e IA nos projetos?
As principais barreiras ainda estão relacionadas à resistência cultural à mudança, com prevalência de práticas tradicionais (“sempre fiz assim”), à necessidade de transformação de processos, e à limitação de recursos — especialmente em períodos de retração econômica. Soma-se a isso uma menor tolerância ao erro em ambientes operacionais, dificuldades na disseminação de iniciativas entre diferentes contratos e a ausência de metas tecnológicas claras, que precisam ser mais bem definidas e incentivadas pelas lideranças.
Como a empresa está utilizando dados coletados nos projetos para melhorar o planejamento e a execução de obras?
A Odebrecht vem avançando na construção de uma cultura orientada a dados. A área de Inovação desenvolveu ferramentas de busca inteligente de informações técnicas, e outras frentes estão sendo conduzidas em parceria com áreas como TI e Engenharia, com o objetivo de aplicar inteligência artificial na organização e interpretação dos dados gerados em campo. Apesar dos avanços, reconhecemos que ainda há um caminho importante a ser percorrido para consolidar essa transformação digital.
Quais inovações tecnológicas a empresa pretende priorizar para capitalizar o crescimento esperado do mercado?
Nossa estratégia está centrada em ampliar a maturidade e disseminação do BIM nos canteiros, promovendo a integração da digitalização da engenharia com as atividades de campo em larga escala. Também vamos intensificar o uso da inteligência artificial, com foco na geração de valor para a engenharia, na automação de processos e na qualificação da gestão da informação. Essas iniciativas visam posicionar a Odebrecht como uma organização cada vez mais orientada por dados (“data driven”) e preparada para as demandas da nova era da construção pesada.
